segunda-feira, 9 de maio de 2011

Para quem gosta de cerveja!

Mestre da cerveja revela seu segredo

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Para ganhar prêmio na Alemanha, Marcelo Rocha, da Colorado, teve que pesquisar muito

Hélio Pellissari

Quando Marcelo mandou a água de Ribeirão para um inglês analisar, o expert achou que ele a havia passado por filtro especial, "de tão boa", melhor até que a água da cidade alemã onde surgiu a "pilsen".  Com essa água e ingredientes como a rapadura e a mandioca, o carioca mais ribeirão-pretano do Brasil chegou a fórmulas nada convencionais.

élio  Pellissari - Como o senhor veio parar em Ribeirão Preto?
Marcelo Rocha - Meu pai casou com uma mulher cuja família tinha terras perto de Barretos. Mas como toda a região gravita em torno de Ribeirão... acaba-se vindo para Ribeirão.  Aí apareceu o Cesário Melo Franco, que é um amigo nosso, dono da Xingu, da marca Xingu. Ela não era da Kaiser, a Xingu tinha um escritoriozinho em Ipanema e ele chegava nas fábricas que tinham capacidade ociosa e contratava a produção da cerveja, não para vender no mercado interno. Ele percebeu esse negócio, que estava tendo cervejarias pequenas nos Estados Unidos, e veio conversar com a gente.

Hélio - Quando foi isso?
Marcelo - Foi em 1994. Decidimos entrar. Em 1995, nós fundamos uma empresa nova, na qual o ex-dono da Xingu, o Cesário, tinha 5%. Nós abrimos aqui em 1996.

Hélio - A choperia?
Marcelo - A choperia com a fábrica.  A ideia inicial era atender a demanda do bar, e vender um barrilzinho para fora. Não estava bem definido este modelo de negócio no Brasil. Havia muitos poucos barris na casa, cerveja feita na frente das pessoas, era tudo muito novo. No período em que fiquei com a choperia tive momentos de sucesso enorme e momentos de baixa. Era uma montanha russa. Não por conta do negócio, mas sim por conta da economia brasileira. Logo que eu abri era o Fernando Henrique, dólar um por um, era um consumo igual ao que está hoje. A explosão era grande, mas o produto interno entrava com mais facilidade. Depois veio a crise russa, a crise asiática, tudo oscilava, mas a cerveja  mantinha um crescimento constante. Aí chegou um momento em que paramos para pensar se valia a pena continuar com a fábrica dentro do bar. Decidimos então partir para a cervejaria mesmo.


Hélio - Por que o senhor não montou choperia no Rio e preferiu montar aqui?
Marcelo - Primeiro foi por conta da história de que eu já tinha negócio na região e gostava daqui. Sempre gostei de Ribeirão Preto, do clima da cidade, das pessoas. E pela água também. Convenci minhas irmãs e investidores de que tinha que ser aqui, porque tinha a Antárctica, já tinha tido outras cervejarias, tinha um consumo de chope acima da média nacional. Aí eu decidi ficar aqui, abandonei o Rio, abandonei a fazenda e vim para cá para cuidar do bar.

Hélio - O senhor veio para cá em uma época em que a Antarctica já estava fechando. Isso ajudou?
Marcelo - Foi um pouco antes, eles ainda tinham muita força, quando eu abri aqui todo mundo falou que eu estava maluco, que eu queria competir na terra da Antárctica. Não, eu não tinha nem condições de competir com ela. Ela dominava todo o mercado.

Hélio - Como surgiu a cerveja?
Marcelo -  Quando eu decidi fazer cerveja engarrafada, percebi que todo mundo ia na direção de copiar os importados. Eu falei não, eu vou para outro lado, vou fazer cerveja com coisas aqui do nosso território, o que está ao nosso lado. Aí comecei a criar, a colocar rapadura na cerveja. Os belgas já colocavam açúcar na cerveja há muito tempo.

Hélio - Como surgiram as marcas?
Marcelo - As marcas todas eu dei. E o desenho dos rótulos eu comecei a pesquisar e descobri  que tinha uma agência de um cara nos Estados Unidos, que é especializado em cerveja. Eu me identifiquei e convidei ele para fazer os rótulos para mim. Na realidade, teve uma somatória de coisas que fez com que, hoje, a Colorado ficasse uma marca muito forte, a ponto de a gente não dar conta. Inclusive já estamos fazendo planos para uma fábrica maior. Adicionar sócios.

Hélio - Qual a sua produção?
Marcelo - Em um mês bom, eu produzo 80 mil litros de cerveja e chope.

Hélio - O senhor começou distribuindo onde?
Marcelo - Eu comecei distribuindo só em "delicatessen", em um esquema bem menor do que de supermercado. O supermercado tem compra em grande quantidade. Ele não quer três caixinhas, ele quer um caminhão. E um supermercado muito importante para a gente foi o Pão de Açúcar, porque ele é muito seletivo, ele levou dois anos para aceitar a gente. Eles toparam abrir 10 lojas para nós. As de Ribeirão, e o resto em São Paulo. Aí o público começou a pedir, e eles falaram: agora nós vamos colocar em 50 lojas. E foi aumentando, agora nós nem pagamos mais para entrar E garante: será voluntariamente sempre um fabricante pequeno, independente, que descarta bebida que não seja de excelência.  "Não quero ser escravo de um produto sem gosto", afirma.
nas lojas. Eles estão vendo que tem um produto bom para o público deles. Veja bem, vamos dizer que a minha cerveja, que eles ganhem R$ 1 ou R$ 2 na minha cerveja. Em uma lata de Skol, eles ganham R$ 0,15, R$ 0,20. Eles têm que comprar 10 latas para ter o lucro que eles têm em uma garrafa. E para este tipo de negócio, o cliente que eu levo lá, ele já paga caro na cerveja, ele vai pagar um queijo caro para acompanhar a cerveja, ele vai querer outros produtos finos.

Hélio - Mas hoje o senhor está também em supermercados mais populares?
Marcelo - Eles vendem também. Sabe por quê? A cerveja, por mais cara que ela seja, ainda é um luxo barato. Se você tomar a minha cerveja, que está entre as mais caras, você vai gastar, em um supermercado caro, mas muito caro, R$ 15,00. Se você for levar isso para o mundo dos vinhos, você não toma nada. Quando eu abri o bar na avenida Independência, eu tinha uma ideia errada do consumidor de cerveja. Vou chamar os usineiros e eles vão vir todos aqui no meu bar. Esquece, quem tem dinheiro faz festa na casa dele, não gosta de sair. O cara que compra a minha cerveja é o dentista, é o funcionário público, que quer se permitir um pequeno luxo. É a classe média ascendente, é o cara que tem prazer em descobrir que o mundo da cerveja não é apenas o mundo da loira gelada.

Hélio - Como é fazer uma cerveja?
Marcelo - Você tem que ter equipamento, técnica e tem uma outra coisa que só vem com o passar dos anos, que é a experiência. Fazer cerveja é relativamente fácil, até a hora que dá alguma coisa errada. Aí ou você conserta ou joga fora. Nas grandes fábricas nada é jogado fora. Eu aqui, quando eu tenho algum problema, graças a Deus eu tenho pouquíssimos problemas, jogo o tanque fora. Este ano joguei três tanques.

Hélio - Isso é quanto?
Marcelo - É 15 mil litros de cerveja. É um final de campeonato com cerveja de graça para todo mundo. Nem se o Comercial ganhasse o título brasileiro sairiam 15 mil litros de cerveja. Mas a gente não abre mão da qualidade.

Leia a entrevista completa na edição impressa do jornal A Cidade.

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